Autoritarismo e censura

Ao longo dos últimos anos e décadas, observamos um padrão, sustentando uma visão de poder autárquico, do que este deve ser e do que, na Póvoa de Varzim, o próprio poder local tem entendido ser o modo adequado de atuar. Tratamos, pois, da formação de um costume, no qual a governação se revê e legitima a sua conduta, mandato após mandato.

Não é caso único, no país, correspondendo a uma herança ibérica plena de senhorios, morgadios, caudilhos e outros resquícios de feudalismo, que, hoje, persiste ainda nos espíritos mais obedientes e submissos.

Sucede, no entanto, que, em Portugal, já é difícil encontrar paralelo de nível de opacidade no que toca, por exemplo, à publicitação das assembleias municipais. São, sem dúvida, poucos aqueles que, se atrevem a isolar a assembleia do quotidiano mediático dos munícipes, em plena sociedade de informação.

Sim, já conhecemos o argumento, logicamente falacioso, de que todo e qualquer comportamento opaco se  encontra respaldado pela legitimidade democrática de sucessivas maiorias.

Afinal, para quem concebe o poder local como absoluto, o poder dos cidadãos começa e acaba na cruz que, a cada quatro anos, colocam num boletim de voto.

E, este poder, que neles reside, mas que durante os 4 anos seguintes lhes é ocultado, é capaz de superar as leis da República, construídas para proteger a dimensão pública e a transparência desse poder, sem a qual ele se torna impuro e indigno.

Todos aqui têm legitimidade para representar os seus eleitores. Mas, mais do que isso, temos a responsabilidade de representar valores e de os afirmar e defender, antes que se degradem e caiam em desuso, pelo costume. 

Um costume que, ainda no fim de semana passado, perante o desagrado popular, justo ou não – não nos cabe julgar -, relativamente a acontecimentos das festividades do S. Pedro, permitiu que não sejam surpreendentes, os episódios de censura de diversos comentários de munícipes poveiros nas redes sociais da Câmara Municipal. 

Em 2023, dever-se-ia primar pela excelência, e não fazer de um veículo de comunicação institucional uma central de propaganda e bons costumes, no qual as vozes dissonantes não têm lugar. 

E não se confunda isto com questões elementares de boa educação, pois estas não se colocam a quem, repetidas vezes, já foi censurado após exprimir os seus pontos de vista de forma ordeira e respeitosa, como nunca poderá deixar de ser.

Condenamos a censura e apelamos à transparência.

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