Desclassificação do “Passeio Alegre”


AM 2022.09.22

Desclassificação do Passeio Alegre
Póvoa de Varzim, 25/10/2017 – Edifício que vai acolher a nova Loja de Turismo Interactiva, no Passeio Alegre, está a dividir os habitantes da cidade. Enquanto uns apoiam o projecto, outros não concordam com a sua localização e já o apelidam de “mamarracho”.


Lê-se na notícia:
“A Direção-Geral do Património Cultural abriu um procedimento de desclassificação do Passeio Alegre, onde se encontra a estátua do Cego do Maio, na Póvoa de Varzim, entendendo que “não cumpre objetivos de proteção do património cultural”.
A abertura do processo, publicado, esta terça-feira, em Diário da República, é sustentada num relatório do organismo, que concluiu que os pressupostos da classificação da zona, datada de 1977, já não se verificam, tendo em conta a evolução urbanística registada no local nos últimos anos, quer no edificado quer no espaço público.”
Já se conhecem, transversalmente, as opiniões relativamente a este assunto e à desqualificação que alguns espaços urbanos poveiros sofreram em determinada época da nossa história:

1 – Foi a especulação imobiliária;
2 – Foi o mercado desregulado da construção

É, quanto a nós, algo discutível. Seria importante aferir se a má qualidade, assim como o critério legal duvidoso, foram exclusivamente praticados por agentes privados do dito ‘mercado desregulado’ ou se, por outro lado, foi uma prática generalizada, inclusive pelo Estado e pelas Autarquias.

Poder-se-ia, também, aferir se a maior parte desses atropelos legais se proporcionou devido a conivências convenientes entre os agentes do Estado e os agentes do mercado – o bem conhecido Capitalismo de compadrio, muito distante da justificação simplista de que o capitalismo é o culpado de todos os males.
Independentemente das justificações históricas, o facto é que o Passeio Alegre foi sendo descaracterizado, desqualificando-o, levando à sua atual desclassificação.
No entanto, não consideramos que tenha sido tudo mau. Houve, também uma melhoria considerável, nas décadas mais recentes, relativamente à qualidade do espaço publico e do ambiente construído na Póvoa. Devemos reconhecer o mérito das administrações que estiveram, nesse período, à frente do município, por terem tomado várias decisões políticas acertadas e das equipas técnicas que foram capazes de idealizar e materializar boas soluções.
No entanto, no meio de pequenos erros e vários (e bons) acertos, a obra do ‘Posto de Turismo Interativo’ que se implantou no Passeio Alegre – O maior e mais emblemático salão de visita da Cidade – é um erro de palmatória. Foi o golpe de misericórdia para a desqualificação final do espaço.

A estrutura funcional e afetiva do Passeio Alegre foi desvirtuada. Com todos os atropelos e intervenções discutíveis, ninguém tinha interferido na sua lógica formal e espacial – Um eixo monumental que culmina no elemento escultórico que representa o maior Herói e figura mais representativa da cidade, o Cego do Maio. O Herói aponta o olhar para entrada da barra do porto de pesca, o local que simboliza a maioria dos seus feitos.zzzzzzzzzzzz
Esta ligação, esta relação formal, funcional e emocional, que se estabelece no imaginário de todos os poveiros é fundamental e não poderia ter sido perturbada.
Mesmo que possa haver um contorcionismo que possa levar a uma interpretação abstrata e duvidosa da lei que impede a construção naquele local, não há qualquer fundamentação que justifique aquela implantação, ali. Se não for ilegal é uma obra profundamente imoral que fere o orgulho de todos os Poveiros.
Mas, nada é irremediável! Ainda podemos corrigir. Acreditamos…

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